Hoje, apresentamos a escultura Pietà, do artista italiano Jacopo Cadillo (1987), mais conhecido como Jago. Seu trabalho consiste em esculturas em mármore de figuras humanas, muito ricas em detalhes, bastante realistas e expressivas e que, geralmente, abordam questões sociais atuais em tom de denúncia ou crítica.
Sua Pietà foi esculpida em 2021 e mostra um homem jovem agachado, o pé esquerdo e o joelho direito apoiados no chão. Em seus braços, o homem segura fortemente o corpo desfalecido de um jovem garoto. O homem é careca, está sem roupas e seu rosto está completamente contorcido, numa clara expressão de choro, dor e desespero.
O rapaz segura tem traços mais jovens e cabelos longos. A boca está parcialmente aberta, o braço esquerdo está atravessado sobre seu abdômen, enquanto o braço direito está caído e a mão toca o chão. Embora seja a representação de um corpo morto, não apresenta sinais indicativos de agressão e de uma morte violenta, resultando numa imagem forte e tocante, mas ao mesmo tempo carregada de delicadeza. Na base da escultura é possível ver a assinatura de Jago.
Apesar desta imagem remeter imediatamente à Pietà de Michelangelo para qualquer observador atento e conhecedor da obra, seus elementos iconográficos e o evento retratado são diferentes. Em entrevista de outubro de 2022, quando perguntado sobre sua Pietà, Jago respondeu:
La Pietà’ é o resultado de imagens horríveis que metabolizei ao longo do tempo – aquelas que via no noticiário quando chegava em casa para almoçar: guerras, destruição, pessoas fugindo da morte... Isso gerou uma dor que se instalou dentro de mim. Em particular, o trabalho foi inspirado por uma imagem da guerra na Síria, que me invadiu. Eu queria dar a este momento uma forma tridimensional para congelá-lo no tempo e de alguma forma exorcizá-lo (Disponível em: https://italysegreta.com/jago-is-jago-not-the-new-michelangelo/ Tradução livre).
Em 2023, foi inaugurado o Jago Museum, localizado na igreja de Sant’Aspreno ai Crociferi, em Napoli, Itália, onde é possível ver várias de suas obras reunidas, inclusive a Pietà.
Para saber mais sobre o trabalho de Jago visite o site oficial e o perfil no Instagram.
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📄 Mudando de assunto…
O Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) está com a exposição Crafting Modernity: Design in Latin America, 1940-1980 em cartaz desde 08/03/2024 até 22/09/24. Esta é a primeira exposição em um grande museu americano que examina o design moderno, abrangendo seis países da América Latina: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Venezuela.
A mostra apresenta móveis, têxteis, cerâmica e fotografias selecionadas da coleção do MoMA, bem como de coleções públicas e privadas nos EUA, América Latina e Europa. O objetivo é analisar e compreender as transformações sociais e culturais na região durante o período pós-guerra, marcado por significativas mudanças e crescimento econômico. Com maior disponibilidade de recursos, a produção das indústrias locais proporcionou novas oportunidades para os designers locais. O interesse em design e mobiliário por parte dos museus remonta a muitos anos. Além de sua imensa relevância histórica, o design oferece informações valiosas sobre a cultura, estilo de vida e artesanato de diferentes períodos da história.
O design transcende sua função prática e se torna uma forma de arte quando incorpora criatividade, expressão e significado. A interseção entre design e arte é um terreno fértil para a inovação e a busca pela beleza. A arte existe em todas as culturas e consiste em objetos, performances e experiências intencionalmente criados por seus autores com base no interesse estético.
Quando o design abraça a estética, a arte é criada. Além da funcionalidade, o objeto carrega consigo uma história, uma prática, uma tecnologia e uma visão pessoal de tempo e espaço que transcende o uso prático. A grande diferença entre arte e design, embora não os afaste, reside em suas intenções e objetivos finais. Enquanto a arte propõe uma interpretação subjetiva de suas obras, o design busca resolver problemas de forma prática e objetiva. Ambos, no entanto, contribuem para a riqueza cultural e estética de nossa sociedade.
A Lu Cavalcante está de férias em Nova York e visitou a exposição “Crafting Modernity: Design in Latin America, 1940-1980”, no MoMA. A seguir estão algumas peças brasileiras que ela viu por lá.
Cadeira Paulistano, 1957, de Paulo Mendes da Rocha (1928-2021), brasileiro, aço tubular e lona, 76,2x76,2x68,6cm. A simplicidade e genialidade desta cadeira está em sua peça de aço continua soldada apenas um ponto, mostrando a precisão técnica da estrutura. Em vez do estofado tradicional ela é vestida por uma lona que acomoda o corpo de maneira orgânica oferecendo conforto. Curiosidade: em 1986, a cadeira recebeu o 1º prêmio de Design do Museu de Arte Brasileira.
Bowl Chair, 1951, aço e tecido, 55 × 84 × 84 cm, da brasileira naturalizada Lina Bo Bardi (1914-1992). De forma arredondada para formar uma concha, essa cadeira ainda possui duas almofadas circulares que permitem ao usuário adaptar o objeto à sua maneira. Fato: apesar dos esforços de Lina, essa cadeira só entrou em produção em escala industrial a partir de 2012, através da associação do Instituto Bardi e a fabricante italiana Arper. Um verdadeiro objeto do desejo! Confira aqui: Bardi's Bowl Chair | Arper. Vale a pena conhecer também o Instituto Bardi / Casa de Vidro: Instituto Bardi | Casa de Vidro.
Cadeira Oscar Niemeyer, 1956, madeira de imbuia e palha natural trançada, 81 x 69 x 61cm, do brasileiro Sergio Rodrigues (1927-2014). Essa cadeira originalmente foi criada para o Jockey Clube do Rio de Janeiro e é uma homenagem ao mais famoso arquiteto brasileiro. Interessante notar que o uso da palha na arquitetura e decoração é antigo, sua popularização no mundo começou em 1859, quando o alemão Michael Thonet apresentou a “Cadeira Thonet” em Viena. No Brasil esse uso começou ainda no período colonial e com o modernismo brasileiro começou a ser amplamente utilizada como “elemento nacional”.
Poltrona Costela (Rib Chair), 1950, base em aço pintado e estrutura em multilaminado tingido e tecido, 90x70x90cm, do austríaco Martin Eisler (1913-1977). Já pela própria estrutura entendemos o nome dessa cadeira que se tornou um clássico em design no mundo. A almofada com seu característico capitonê dá um charme ao conforto. Eisler, arquiteto, designer e cenógrafo, depois de viver na Argentina, mudou-se para o Brasil na década de 50 e em 1955 fundou a empresa Forma que produziu essa icônica cadeira e outros mobiliários de design até 2003.
Cadeira Tripé de Ferro, 1950-1958, aço e couro, 77 × 68 × 78 cm também de Lina Bo Bardi (1914-1992). Com uma estrutura de três apoios, Lina com sua imensa criatividade inspirou-se pelo costume popular brasileiro de repousar em redes para a construção dessa cadeira, priorizando a adaptabilidade e a comodidade em oposição às formas rígidas de uma cadeira convencional.
👀 Arte em Pauta
O Papa Francisco é o primeiro papa a visitar a Bienal de Veneza.
Devido a reclamações de turistas, o Louvre está se propondo a construir uma câmara subterrânea exclusiva para exibição da Monalisa.
A exposição “Yves Klein and the Tangible World” está acontecendo na Lévy Gorvy Dayan, localizada no 19 East 64th Street, em Nova York. A mostra é dedicada ao envolvimento do corpo na obra do controverso artista francês e inclui vários trabalhos do artista de suas famosas séries: Anthropométries (1960–62) e Peintures de feu pinturas de fogo, 1961–62), como também a Sculpture tactile (Escultura Táctil, concebida c. 1957). Interessante saber que a Escultura táctil nunca foi realizada em vida pelo artista. A performance consiste em um artista nu dentro de uma caixa com um pequeno buraco, esperando ser tocado pela audiência.