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A edição de hoje traz a obra Simple Pleasure (2024), de Brianna Lance (1982), artista nascida em San Jose, na Califórnia e atualmente radicada em New York. Apesar de colecionar destaques na mídia e em eventos de arte - como Vogue, Miami Art Week e Harper's Bazaar - e já ter celebrado colaborações com grandes marcas, Brianna só iniciou sua carreira artística em 2020, depois de uma carreira no mundo da moda, onde trabalhou como designer, diretora criativa e consultora. Como artista, sua atuação é versátil, criando esculturas e bordados, mas seu foco é a pintura.
Especialmente em suas pinturas, Brianna faz uso de um processo criativo intuitivo, que começa frequentemente com pinturas de fluxo de consciência, permitindo que suas emoções e pensamentos subconscientes guiem o início do trabalho. À medida que avança, ela usa a meditação para refinar e aprofundar as peças, criando uma conexão espiritual com o processo. Assim, ela cria imagens que misturam movimento, meditação e temas subconscientes, que remetem ao Surrealismo.
É o que podemos ver em Simple Pleasure (2024). Nesta obra, Lance retrata uma série de bolhas translúcidas flutuando em um ambiente aquático de tons de verde e azul suaves. Dentro de algumas bolhas, há pequenos objetos e símbolos delicados: uma flor, velas, um cisne, uma ramo de planta e uma concha, todos emoldurados por essas esferas flutuantes. Essa obra parece evocar um sentimento de fragilidade e leveza, remetendo à efemeridade das "pequenas alegrias" do cotidiano, representadas por esses elementos sutis. As bolhas podem simbolizar momentos ou memórias preciosas, porém isoladas, sugerindo que as pequenas alegrias são fugazes e precisam ser apreciadas no instante presente. A escolha do fundo suave e as cores delicadas reforçam essa sensação de serenidade e contemplação. Lance parece se conectar com ideias espirituais e meditativas aqui, ligando o espectador à importância de valorizar o ordinário e o belo que nos cercam.
Para conhecer mais trabalhos de Brianna Lance, visite o site oficial ou perfil no Instagram.
📄 Mudando de assunto…
Em comemoração ao Dia das Crianças, trazemos uma reflexão sobre como a infância foi retratada ao longo da história da arte.
O status e o conceito de infância evoluíram significativamente ao longo dos séculos. Em diferentes épocas, as crianças foram vistas de maneiras curiosas: ora como brinquedos, fantoches, ora como adultos em miniatura. A própria ideia de infância como uma fase distinta da vida é relativamente recente. Até o final da Idade Média, considerava-se que a infância terminava aos sete anos, momento em que, segundo a Igreja Católica, as crianças já eram capazes de discernir entre o certo e o errado. A partir dessa idade, elas eram tratadas como pequenos adultos, convivendo, competindo, trabalhando e até brincando ao lado dos mais velhos.
Com o tempo, a sociedade passou a enxergar a infância como um período de desenvolvimento único, destinado à educação e à preparação para a vida adulta. Antes de 1500, retratos infantis eram raros e encomendados apenas pelos mais ricos. Quando apareciam, os artistas geralmente representavam jovens nobres com uma postura adulta e digna. No entanto, já no século XVII, começava-se a valorizar a infância como uma etapa especial e formativa na vida de uma pessoa.
Por volta do século XVIII, representações mais vibrantes e frequentes de crianças surgiram, não só por causa do aumento de encomendas da nova classe média-alta, mas também devido ao interesse dos filósofos da época por temas como a inocência e a educação infantil. Essa tendência se intensificou nos séculos XIX e XX, quando artistas passaram a ver na imaginação infantil uma fonte de inspiração para a criatividade pura e desinibida.
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Na arte medieval, o menino Jesus era frequentemente representado como um homúnculo, do latim homunculus, que significa "pequeno homem". Essa representação não mostrava Jesus apenas como uma versão infantil, mas sim como alguém que, desde o nascimento, já era pleno em sabedoria, onisciente e destinado a transformar o mundo. Ou seja, diferente de um bebê comum, Jesus, mesmo em sua infância, era visto como dotado de poder divino. A intenção dos artistas era enfatizar essa natureza teológica de Cristo, retratando-o não como uma criança comum, mas como o Salvador desde o início.
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Em contraste com o conceito de crianças como pequenos adultos, a obra de Bruegel nos mostra que as crianças também brincam. Nela, foram identificados mais de 83 jogos diferentes, praticados por cerca de 230 crianças, variando desde bebês até adolescentes. A pintura é uma verdadeira enciclopédia de jogos infantis, muitos dos quais são reconhecíveis até os dias de hoje. A riqueza de detalhes, com figuras pequenas e diversas cenas, convida o observador a explorar cada parte da obra de forma minuciosa, tornando essa exploração quase um passatempo.
Embora não exista um contexto histórico ou registro que forneça uma interpretação definitiva dessa obra, a principal teoria sobre seu significado sugere que ela funciona como uma parábola da insensatez e do comportamento humano. Ao olhar com atenção, percebemos que nem todas as crianças estão felizes: algumas estão isoladas, ridicularizadas ou até machucadas, refletindo a complexidade das interações sociais.
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Reconhecemos traços impressionistas nas obras do pintor espanhol Joaquín Sorolla, embora ele preferisse ser chamado de “pintor da luz”. Em suas telas, retrata sua visão da infância em sua cidade natal, onde a luz e a energia são transformadas em cores que expressam o sorriso e a vitalidade das crianças. A infância, o mar e a luz são temas centrais e recorrentes em sua obra. Suas pinceladas largas e vibrantes capturam a liberdade, a energia e a espontaneidade com as quais ele enxergava a infância.
A série de pinturas que Sorolla realizou em Valência alcançou grande destaque, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos. De acordo com estudiosos de sua trajetória, era um pai afetuoso e devotado, apaixonado por crianças, e tinha o dom de retratá-las em seus momentos mais genuínos, capturando com maestria a alegria e o dinamismo próprios da infância.
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Candido Portinari é amplamente conhecido por retratar a vida do povo brasileiro, frequentemente abordando questões sociais e protestando contra injustiças. No entanto, em meio a essa abordagem crítica, ele também explorou a infância de forma lírica, inspirando-se em suas próprias memórias. Sua obra abrange a vida em suas mais diversas facetas, mostrando tanto o drama quanto a alegria, em uma representação abrangente da experiência humana.
Na imagem acima, dois meninos estão “plantando bananeira” e um burro está ao fundo amarelo, onde no centro há um círculo azul. Assim como nas brincadeiras o artista brinca com as cores, o burro talvez seja uma lembrança da vida do interior, e o círculo sugere ser o sol ou a lua, uma metáfora que as brincadeiras seriam o dia todo, como já relatado pelo artista em suas memórias da infância. Recuperando as brincadeiras infantis, ele leva o expectador a olhar para o papel da criança em nossa sociedade.
E você, que obra gostou mais? É sempre interessante como a arte nos faz refletir. Deixe seu comentário!
👀 Arte em Pauta
Está em cartaz no Museu Nacional da República, até novembro, a exposição Brasília, a Arte do Planalto.
Escultura do artista chinês Ai Wei Wei, é destruída em museu na Itália.
A obra Sunny, de David Hockney, foi arrematada essa semana em leilão da Sotheby’s por U$17 milhões.
O papel da IA no processo criativo ainda enfrenta disputas judiciais até que as instituições de arte cheguem a um consenso sobre o assunto.
A performance 1000 Eggs: For Women, em Londres, de Sarah Lucas, convida qualquer pessoa que se identifique como mulher, ou homens vestidos de mulher, a atirar 1.000 ovos contra uma parede branca. Deve ser divertido, não!?
A do Portinari é a minha preferida. Me dá vontade de plantar bananeira também hahaha
Como cada um olha e vê o que sabe e sente em uma das bolhas da obra da Bianca Lance vi uma orelha kkk, inclusive com um aparelho auditivo. Bjs