Tug of War de Andrew Scott
E mais: uma homenagem aos 250 anos de Caspar David Friedrich e algumas notícias do mundo da arte
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Na edição de hoje trazemos a obra Tug of War (2024), do artista americano Andrew Scott (1991). Fenômeno nas redes sociais, o trabalho de Scott chama atenção por sua técnica de intervenção em todos os elementos que compõem um quadro, incluindo o vidro e a moldura, além da inclusão de elementos externos à imagem em si, como barbantes e cola, ou até mesmo um rasgo no material de suporte da imagem (predominantemente papel) ou o deslocamento desse suporte para fora da moldura.
Assim, por exemplo, a imagem de uma garota atirando um balde de tinta para fora do quadro é complementa por uma porção de cola escorrida no vidro, dando a impressão de que a tinta foi de fato atirada para fora da imagem. Ou a imagem de um homem levantando um grande e pesado pedaço de madeira é construída quebrando um pedaço da moldura, fazendo com o a madeira seja não desenhada, mas representada pela moldura. Ou seja, no trabalho de Scott, todos os elementos que compõem o quadro exercem uma função tanto na estética quanto na mensagem que a obra pretende passar. O resultado são imagens que parem ter movimento, ter vida.
Tug of War (2024) é um exemplo disso. Em uma imagem convencional, teríamos todo o desenho dentro da moldura, e teríamos a impressão de uma cena “congelada”, de uma fotografia de um momento de movimento. Mas Scott faz diferente: ele desloca metade da imagem para fora da moldura, o que dá a impressão da brincadeira de cabo de guerra está acontecendo no momento em que olhamos para ela. Trata-se de uma imagem “limpa” – com poucos elementos e cores sóbrias -, mas esse simples deslocamento para fora da moldura a torna esteticamente mais rica. O tema de uma "guerra de forças" pode levar o espectador a questionar o equilíbrio entre oposições: resistência e rendição, controle e perda. E ainda podemos nos perguntar: qual o objetivo? O que seria o ideal: retirar toda a imagem da moldura ou pôr por completo dentro da moldura?
Para conhecer mais a obra de Andrew Scott, visite o site oficial ou o perfil no Instagram.
📄 Mudando de assunto…
No dia 5 de setembro, celebramos os 250 anos do nascimento de Caspar David Friedrich, pintor romântico que, apesar de não ter sido amplamente reconhecido em seu tempo, fundamentou parte de uma estética visual que influencia até hoje. Ele revolucionou as tradições da pintura de paisagem barroca e clássica, combinando elementos naturais e religiosos para criar alegorias de solidão, contemplação, morte e esperança, sempre permeadas por uma visão melancólica. Suas obras são mundialmente conhecidas, mas nem sempre vistas como de fácil apreciação, pois exigem tempo para que sua mensagem seja compreendida. Seu trabalho não oferece respostas prontas, mas nos provoca com perguntas.
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O Andarilho (1818), acima, é talvez o trabalho mais reconhecido de Caspar David Friedrich. A imagem sintetiza o Romantismo alemão ao evocar temas como solidão, sublimidade e o encontro transformador com a natureza espiritualizada e os mistérios interiores do ser. Nela, vemos um homem desconhecido de costas para o observador — um Rückenfigur, ou figura de costas, que nos atrai para a paisagem que se desenrola diante dele. Essa figura, como recurso composicional, serve para destacar a profundidade da paisagem no plano de fundo da tela.
A identidade do personagem é irrelevante, pois, através dessa técnica, o observador se projeta na cena, envolvendo-se na espacialidade da obra. Embora essa técnica tenha raízes na antiguidade, foi no Romantismo que ganhou pleno valor estético, pois nenhum outro artista, até então, havia colocado uma figura central sozinha, de costas, no primeiro plano, dando tanto destaque à paisagem.
Ainda hoje, é comum encontrarmos nas redes sociais e em outras mídias imagens que remetem à estética do Rückenfigur. Essa figura ressoa com questões contemporâneas sobre identidade, percepção e experiência estética. A projeção pessoal na cena, a solidão e a contemplação — simbolizadas pela figura solitária — reforçam temas de introspecção e isolamento, experiências humanas profundamente presentes em nossa vida moderna. O mistério e a distância, representados pelo anonimato da figura, permitem que a imaginação preencha o vazio. Por fim, a experiência do sublime — o confronto com a vastidão e o poder da natureza ou de um cenário — nos lembra da fragilidade humana diante da grandiosidade do mundo.
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Na obra Mulher na Janela (1822), Friedrich retrata sua esposa olhando para fora. É uma cena simples da vida cotidiana, onde a composição e o anonimato da figura criam uma conexão empática com o observador, levando-nos a imaginar o que pode estar sendo contemplado além da janela, ao mesmo tempo que nos convida a revisitar nossos próprios pensamentos. A escolha de não mostrar o rosto da mulher nos permite projetar nossa própria experiência na dela, tornando a pintura uma reflexão íntima e universal sobre introspecção e contemplação.
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Acima, na obra Nascer da Lua sobre o Mar (1822), vemos duas mulheres e um homem admirando o nascer da lua no horizonte, todos de costas para o observador. A composição divide-se em dois planos: a costa e o oceano, separados por uma ruptura sutil entre ambos. Para nós, essa divisão se manifesta através do contraste entre o movimento da linha do horizonte e a imobilidade das figuras no primeiro plano, destacada pelo jogo de luz e sombra. Percebemos que, embora as pessoas estejam juntas, cada uma vive seu próprio momento de contemplação da vastidão do mundo.
E você já tirou uma foto assim? O que você achou dessa poética? Deixe aqui nos comentários.
Para saber mais: Centro Caspar David Friedrich, 250 Anos de Caspar David Friedrich, 92 Obras de Caspar David Friedrich
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Estou totalmente apaixonada pelo “O Andarilho” e “Nascer da lua sob o mar” Que coisa linda
Que sensação incrível ver as obras de Friedrich ❤️ parece que tomamos o lugar da pessoa de costas, ao mesmo tempo, fiquei num devaneio se não poderiam estar nos observando pelas costas também, como se tivéssemos expectadores das nossas próprias vidas.