Metamorphosis de Gil Bruvel
E mais: seguimos falando sobre Impressionismo e algumas novidades da semana
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Esta semana destacamos Metamorphosis (2024), uma escultura de Gil Bruvel (1959), pintor e escultor nascido na Austrália, filho de pais franceses, atualmente baseado no Texas. Desde a infância, ele teve aulas de desenho e escultura. Seu pai, um marceneiro, o ensinou sobre design e a funcionalidade na arte, influências que permanecem evidentes em sua obra. Bruvel persegue uma expressão artística orgânica, já passou por uma variedade de meios como pintura, grafite, fundição em bronze, mobiliário funcional, mídia mista, escultura pública, aço inoxidável e, atualmente, trabalha com madeira. Seu percurso artístico é profundamente influenciado pelo surrealismo, cubismo e abstração.
Em seu trabalho de elaboração de esculturas com ripas de madeira, Bruvel adota um processo ritualista: transforma a madeira em camadas cuidadosamente formadas, submetendo-as ao fogo, que marca e acentua sua textura. Em vez de queimar completamente a madeira, Bruvel a carboniza levemente, destacando os veios naturais. Ele constrói as imagens meticulosamente, ripa por ripa, antes de aplicar as camadas de pintura gradiente que simbolizam emoções fluindo pela mente. A repetição e a uniformidade do processo geram um senso meditativo.
Em Metamorphosis, Bruvel desenvolve um retrato pixelado, construído com várias ripas rígidas de madeira de maple, pintadas em gradientes vibrantes que realçam as feições. A obra retrata um rosto meditativo e sereno, enquanto as ripas que predominam nas laterais e na parte de trás formam padrões abstratos, sugerindo caminhos neurais, emoções ou estados de espírito. Essas figuras se preocupam com o que se passa na mente do observador, explorando também a efemeridade do tempo, sugerida pelos veios que revelam a idade da madeira.
Vistas de perto, as ripas parecem um agrupamento aleatório de formas geométricas, mas, de longe, revelam um rosto coeso que emerge do caos aparente. Segundo o próprio Bruvel: "essa fragmentação revela um todo coerente", que, ao combinar controle e caos, se torna metáfora da vida.
Para saber mais sobre o artista, visite seu site ou sua página no Instagram.
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📄 Mudando de assunto…
Na verdade, voltando ao assunto do Impressionismo...1
Se tivéssemos que definir o que é o Impressionismo, poderíamos dizer que foi um movimento artístico que surgiu na França no final do século XIX, com o intuito de romper com os padrões acadêmicos da época, e inaugurou um estilo de pintura que buscava registrar o cotidiano e a modernidade, era feita ao ar livre, com pinceladas rápidas e soltas, e usava a luz e a cor para criar efeitos que transmitissem a impressão de efemeridade do momento.
Contudo, ao longo de suas edições, as exposições Impressionistas receberam muitas críticas, entre outras coisas, pela forte heterogeneidade de técnicas e temas das obras expostas, o que conferia ao grupo expositor falta de unidade e de uma narrativa expositiva coerente. Ou seja, ter participado de uma exposição Impressionista não necessariamente significava que o artista se encaixava na definição colocada no parágrafo acima.
Na verdade, apenas um subconjunto dos artistas que participaram das exposições Impressionistas se dedicaram àquele estilo de pintura. Ainda assim, mesmo entre aqueles que podem ser considerados o “núcleo duro” do Impressionismo no sentido técnico, é possível identificar diversas diferenças estilísticas. Alguns dos que compõem esse grupo são: Monet, Renoir, Pissarro, Sisley, Degas e Berthe Morisot. A seguir, poderemos ver, através de suas obras que, embora todos eles estejam sob a mesma denominação de movimento artístico, eles estavam longe de formar uma unidade estilística.
Claude Monet é considerado o pai do Impressionismo devido sua obra Impressão, Nascer do Sol (1872) ter dado nome ao movimento, mas sua contribuição foi muito além disso. Monet foi um mestre em captar a luz e suas variações ao longo do dia e das estações. Sua técnica incluía pinceladas rápidas e curtas, com cores vibrantes aplicadas lado a lado para criar efeitos luminosos e atmosféricos. Ele aplicou esse tipo de técnica à pintura dos mais variados temas, como paisagens, jardins, cenas de água e a interação da luz com a natureza. Em séries como Nenúfares e Catedral de Rouen, Monet explorava as mudanças de luz e atmosfera ao pintar a mesma cena em diferentes momentos do dia, criando um estudo quase científico das variações ópticas.
Femme à l'ombrelle tournée vers la droite (1886) é uma obra que encapsula os princípios centrais do Impressionismo, com sua ênfase na luz, movimento e a experiência fugaz da natureza. A obra mostra uma mulher, possivelmente Camille Monet, segurando uma sombrinha ao ar livre, em um cenário onde a luz natural é protagonista, criando contrastes suaves e uma atmosfera luminosa. Com pinceladas rápidas e perspectiva ligeiramente inferior, Monet transmite movimento, espontaneidade e uma sensação de contemplação serena, evidenciando a conexão entre a figura e o ambiente ao seu redor.
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Já Pierre-Auguste Renoir era mais reconhecido por suas cenas vibrantes e alegres da vida urbana cotidiana. Ele utilizava pinceladas leves e arredondadas, que davam uma qualidade quase tridimensional às figuras humanas, e era obcecado pela interação entre luz e cor nas superfícies, especialmente nas sombras coloridas. Uma marca constante em suas pintura é a mistura de tons quentes e frios para criar contraste e vitalidade.
Em O balanço (1876) é uma obra que exemplifica o domínio do artista na criação de cenas luminosas e vibrantes da vida urbana cotidiana. A pintura retrata uma jovem em um balanço, cercada por figuras em um jardim ensolarado. Renoir utiliza pinceladas soltas e vibrantes para captar os jogos de luz e sombra que atravessam as folhas das árvores, criando uma atmosfera de dappled light (luz filtrada), que é quase palpável. Ele está particularmente tentando capturar os efeitos da luz solar salpicada pela folhagem. Essa luz é representada pelas manchas de cor pálida, particularmente na roupa e no chão. A paleta de cores suaves, composta por tons de azul, branco e verde, reforça a leveza e a serenidade da cena. A composição transmite a alegria simples e a espontaneidade de um momento ao ar livre, mostrando o talento de Renoir em transformar cenas triviais em celebrações de luz, cor e vida.
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Camille Pissarro abordou uma diversidade temas, tanto urbanas quanto rurais. A série de de pinturas do Boulevard Montmartre em diversos horários do dia e da noite está entre as obras mais bonitas e reconhecidas do artista. Mas Pissarro também era um dos mais politizados e progressistas do grupo e sua obra frequentemente se voltava ao registro de trabalhadores comuns em vez de cenas idealizadas.
Em Fenação em Éragny (1901), Camille Pissarro retrata trabalhadores rurais colhendo feno na vila de Éragny-sur-Epte, onde o artista residiu de 1884 até sua morte em 1903. A composição destaca a harmonia entre figuras humanas e a paisagem, com uma disposição cuidadosa que cria um ritmo equilibrado de linhas e formas. Ele utiliza pinceladas soltas e uma paleta de cores suaves para capturar a luz natural e a atmosfera serena do campo francês. A obra reflete seu interesse contínuo pela vida rural e sua habilidade em representar o cotidiano da classe trabalhadora.
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Por outro lado, Edgar Degas ficou famoso por suas representações de bailarinas e cenas da vida moderna, muitas delas em ambientes internos. Tecnicamente, ele combinava Impressionismo com o Realismo, e fazia uso da fotografia como um auxilio para executar suas pinturas. La Classe de Danse, criada entre 1873 e 1876, retrata um momento íntimo no estúdio de balé. Degas escolhe mostrar o cotidiano nos bastidores, focando nas poses naturais e descontraídas das dançarinas enquanto se ajustam ou conversam. A composição utiliza uma perspectiva diagonal que guia o olhar por toda a sala, enquanto a iluminação suave e difusa realça a textura do tule e o piso de madeira, criando profundidade. A obra reflete a habilidade de Degas em capturar cenas cotidianas com espontaneidade e precisão, equilibrando influências impressionistas e realistas. Com pinceladas soltas e uma paleta de tons suaves, ele humaniza as bailarinas, destacando o esforço e a disciplina envolvidos no balé, longe da idealização comum.
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Berthe Morisot também se destaca pelo registro de cenas cotidianas em ambientes internos, ao contrário de boa parte de seus colegas de movimento, que retratavam a vida ao ar livre. Frequentemente, sua obra retrata o cotidiano feminino. Le Berceau (1872), uma obra emblemática da artista, retrata uma cena íntima de maternidade. A pintura mostra Edma, irmã de Berthe, observando carinhosamente sua filha Blanche enquanto ela dorme em um berço. A composição destaca a conexão profunda entre mãe e filha, evidenciada pelo olhar atento de Edma e pela posição de seus braços, que une as duas figuras. Morisot utilizou pinceladas suaves e uma paleta de cores claras para capturar a luz natural que permeia a cena, conferindo uma atmosfera de serenidade e ternura. A cortina translúcida do berço, que Edma segura delicadamente, adiciona uma camada de intimidade e proteção, simbolizando o cuidado materno. A obra foi apresentada na primeira exposição impressionista em 1874, marcando a presença de Morisot como a primeira mulher a expor com o grupo. Apesar de inicialmente não receber grande atenção, O Berço é hoje reconhecido como uma representação sensível e inovadora da maternidade na arte do século XIX.
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Por fim, destacamos a obra de Alfred Sisley. Ele foi um dos principais artistas do Impressionismo, conhecido por suas paisagens tranquilas e luminosas. Sua técnica é marcada por pinceladas fluidas e uma paleta de cores claras, que capturam com maestria os efeitos da luz e da atmosfera em diferentes momentos do dia e estações do ano.
Seus temas predominantes incluem rios, pontes, campos e vilarejos, muitas vezes retratando áreas ao redor de Paris e localidades como Moret-sur-Loing. Sisley evitou figuras humanas como foco principal, concentrando-se na interação entre natureza, luz e espaço. Sua obra exemplifica o compromisso impressionista de captar a experiência visual de forma imediata e sensível.
Tudo isto pode ser percebido em The Flood at Port-Marly (1876), que mostra a elevação das águas do rio Sena em Port-Marly. A obra se destaca pelo uso cuidadoso da perspectiva, que contrasta com a natureza dinâmica da cena. Sisley emprega pinceladas espontâneas e uma paleta de cores suaves, especialmente tons de azul e preto, para criar uma atmosfera poética e emocional, focando nos reflexos e na luz que interage com o cenário da cheia. A obra destaca a beleza transitória do impacto da natureza sobre o espaço urbano.
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Nós poderíamos trazer muitos outros exemplos de obras, e até mesmo de outros artistas Impressionistas, para analisar as nuances que os diferenciam e faz desse um grupo bastante heterogêneo. Mas as seis obras abordadas aqui já mostram que, embora todos tenham em comum um obra que rompe com padrões acadêmicos e inauguram uma nova forma de pintura e, especialmente, abre um caminho para liberdade artística, cada um tinha sua assinatura estilística própria ao se diferenciarem pelo uso das cores, pela representação de luzes e sombras e pelas escolhas das temáticas.
👀 Arte em Pauta
A mais antiga placa de pedra com os Dez Mandamentos vai a leilão.
Os Estados Unidos devolvem a India antiguidades saqueadas.
Mais de 2000 obras de arte falsas foram apreendidas na europa.
Pequeno busto do artista Edmé Bouchardon (1698-1762), adquirido em meados de 1930 pelo equivalente a U$6, poderá ir a leilão por aproximadamente U$4 milhões.
Esse é o terceiro texto sobre Impressionismo na seção “Mudando de Assunto”. O primeiro texto contou de maneira breve a histórias das exposições Impressionistas, e o segundo texto falou sobre Monet.
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