Beautiful Error de Márta Kucsora
E mais: curiosidades sobre Monet e algumas novidades do mundo da arte
Márta Kucsora, Beautiful Error, 2022, videoarte. Fonte: https://kucsora.com/video-installation/
A edição de hoje traz Beautiful Error (2022), um vídeo-instalação, ou videoarte, da artista húngara Márta Kucsora (1979). Embora seja mais conhecida por pinturas de estilo abstrato experimental em telas grandes, o trabalho de Kucsora também abrange vídeo-instalação, ou videoarte, modalidade que começou a desenvolver mais recentemente.
Para criar esses vídeos, Kucsora prepara uma superfície ou recipiente onde mistura substâncias diversas, como diferentes tipos de tinta, solventes e outros elementos. Ela então filma cada momento dessa mistura e as reações e transformações químicas que decorrem dela, utilizando técnicas digitais para ampliar a escala e o impacto visual dessas reações, mas evita a pós-produção, preferindo manter a “pureza” das imagens.
Diferentemente das pinturas estáticas, os vídeos registram o movimento fluido e orgânico das misturas de tinta, destacando mudanças de forma e cor em tempo real, sem a intervenção direta da artista durante a filmagem. Ela considera esse processo como uma espécie de “instantâneo em movimento” dos padrões criados pelos materiais, captando momentos efêmeros que uma tela tradicional não conseguiria exprimir.
O resultado final é uma experiência imersiva para o espectador, que observa uma espécie de “nascimento” das formas, parecendo observar o mundo a partir de uma perspectiva subatômica ou cósmica. Seus vídeos, ao capturar a imprevisibilidade das interações químicas, revelam o que ela considera como a natureza “viva” dos materiais, propondo uma visão crítica sobre a relação entre natureza e controle humano.
Todo esse processo pode ser visto em Beautiful Error (2022), onde a combinação da imagem e do som convidam o espectador ao relaxamento, ao mesmo tempo em que é surpreendido a cada segundo com as novas formas e cores decorrentes das reações provocadas pela mistura entre os materiais. Recomendamos reservar 18 minutinhos deste domingo para assistir a esse vídeo e se permitir relaxar!
Para conhecer outros trabalhos de Márta Kucsora, visite o site oficial ou o perfil no Instagram.
📄 Mudando de assunto…
Em continuidade ao nosso mês dedicado ao Impressionismo, celebramos nesta semana Claude Monet, um dos artistas mais venerados de todos os tempos, nascido em 14 de novembro de 1840, em Paris. Mestre do movimento impressionista, Monet revolucionou a arte ao estabelecer novas diretrizes para a prática artística, que perduram até hoje.
Aqui estão alguns fatos sobre ele:
Monet foi batizado como Oscar-Claude Monet, e era chamado de Oscar por seus pais e pessoas mais próximas. Desde cedo, demonstrou talento para a pintura e ingressou na Escola Superior de Arte e Design de Le Havre, na Normandia, aos 11 anos. Ali, ficou famoso por suas caricaturas em carvão, que vendia nas ruas.
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Entre 1856 e 1858, conheceu o pintor de paisagens Eugène Boudin (1824-1898), que o incentivou a abandonar as caricaturas e a explorar a pintura de paisagens ao ar livre, uma prática que se tornaria a base de seu estilo. Durante uma expedição de pintura em Rouelles, Monet desenvolveu um fascínio pela natureza e pelos efeitos da luz e da atmosfera nas cores, um tema central em sua obra. Sua primeira pintura conhecida, Vista de Rouelles (abaixo), datada de 1858, foi apresentada em uma exposição municipal em Le Havre no mesmo ano.
Em 1861, após ser convocado para o serviço militar na Argélia, Monet contraiu tifo e foi dispensado, retornando a Paris com a condição de retomar seus estudos artísticos. Desiludido com o conservadorismo da Academia, ele se matriculou na Academia Suisse em 1862, onde conheceu outros futuros impressionistas, como Pierre-Auguste Renoir, Frédéric Bazille e Alfred Sisley. Juntos, buscavam novas maneiras de pintar, capturando os efeitos fugazes da luz com pinceladas rápidas e cores vibrantes, fora do estúdio, ao ar livre. Foi também onde conheceu a modelo Camille Doncieux (1847-1879), sua primeira mulher e musa em várias de suas obras, como a que mostramos abaixo, onde Monet retrata Camille e, supostamente, esse retrato foi criado quando Gustave Courbet pediu a Monet que pintasse algo “rápido e bom, de uma vez só”, para que ele pudesse submeter a tempo ao Salão de 1866. É dito também que foi executada em quatro dias. O que se pode afirmar é que a obra foi aprovada para o Salão de Paris e foi um sucesso de crítica.
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Como muitos artistas, Monet passou grande parte da vida sem dinheiro, dependendo de apoio constante de amigos e familiares para sobreviver. Em meio à pobreza e à frustração com o establishment artístico francês, Monet entrou em uma profunda crise emocional e tentou suicidar-se ao se jogar no rio Sena em 1868. A luta contra a depressão o acompanharia durante toda sua vida.
A Guerra Franco-Prussiana de 1870 o forçou a se refugiar na Inglaterra, onde estudou as obras de John Constable e William Turner, cujas influências são evidentes em sua obra Impressão, Sol Nascente (1872), que se tornaria famosa ao ser apresentada na primeira Exposição Impressionista em 1874. Este quadro, que deu nome ao movimento, foi adquirido por Ernest Hoschedé, patrono dos impressionistas e amigo de Monet.
A arte e a cultura japonesa também exerceram grande influência sobre Monet, especialmente após a abertura do Japão e a popularização das gravuras ukiyo-e na Europa. Ele colecionou essas gravuras e, inspirado pelo estilo japonês, criou os jardins em Giverny, que se tornariam um dos seus maiores legados. Em La Japonaise (1876), Monet funde elementos da estética oriental e ocidental ao retratar Camille com uma peruca loira, evocando a moda japonesa.
Em 1878, enquanto Camille enfrentava uma grave doença, a família Monet passou a dividir a casa com a família de Ernest Hoschedé, na vila de Vétheuil, que havia encomendado quatro pinturas a Monet. Nesse mesmo ano, Hoschedé declarou falência e perdeu todos os seus bens, partindo para a Bélgica em uma tentativa de reconstruir sua fortuna. Monet e sua família permaneceram na vila, na companhia de Alice, esposa de Hoschedé, que cuidou de Camille durante sua doença. Em 1879, Camille faleceu aos 32 anos e Monet imortalizou o momento em uma pintura feita em seu leito de morte (imagem abaixo). Monet e Alice, junto com os filhos das duas respectivas famílias, continuaram vivendo juntos em Poissy e mais tarde em Giverny. Casaram-se em 1892, após a morte de Hoschedé.
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Claude Monet, fascinado pelos efeitos da luz e da cor na atmosfera, dedicou sua carreira a uma série de obras que exploravam as variações desses elementos sob diferentes condições, como hora do dia e estações do ano. Ele frequentemente pintava o mesmo tema repetidamente, buscando capturar a essência efêmera do momento e a constante mutabilidade da luz, como se cada objeto surgisse e desaparecesse com a iluminação que o envolvia. Entre suas séries mais icônicas estão Haystacks (1890-91), as Catedrais de Rouen (1892-94) e, especialmente, as célebres Ninféias, que se tornaram o foco central de sua produção nas últimas décadas de sua vida, totalizando mais de 250 obras.
Sua técnica, marcada por pinceladas rápidas e o uso inovador de cores, permitiu-lhe capturar a luz do sol e as sombras de maneira revolucionária, afastando-se da tradição de representar sombras em tons escuros. As séries, com suas frequentes variações de uma obra para outra, evidenciam a contínua transformação da realidade percebida pelo artista, refletindo uma visão subjetiva e sensível do mundo. Esses efeitos podem ser observados nas duas obras abaixo: a primeira mostra a luz ao final do verão, enquanto a segunda revela a luz refletida na neve.
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No final de sua vida, Monet desenvolveu catarata, e suas pinturas desse período são facilmente reconhecíveis por apresentarem um tom mais avermelhado, resultado da mudança de percepção das cores. A catarata tem o efeito de absorver luz, dessaturar cores e tornar o mundo visualmente mais amarelado e avermelhado. Refletindo essas mudanças perceptivas, suas pinturas de Ninfeias e salgueiros dessa época tornaram-se mais abstratas, com uma notável transição de um espectro azul-esverdeado para tons de amarelo, rosa e vermelho mais turvos. Embora Monet tenha ficado profundamente angustiado com os efeitos da perda de visão em seu trabalho, as obras desse período são reconhecidas como uma ponte significativa entre o impressionismo e a abstração moderna. A obra abaixo é considerada o último trabalho de Monet.
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Agora nos conte: o que achou da vida de Monet e suas obras? Clique aqui para um tour virtual em sua casa em Giverny e seu jardim.
👀 Arte em Pauta
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Amei essa edição!! Monet é o meu pintor favorito, e adorei saber mais sobre a história dele.
Que delícia de edição. Adorei conhecer mais da vida de Monet. Fiquei curiosa em saber qual era a doença de Camille.