Hatventure de Anna Devís e Daniel Rueda
E mais: seguimos falando de fotografia e de algumas novidades do mundo da arte
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Olá, leitores!
Na edição passada, nossa seção “Mudando de assunto…” falou sobre a relação entre arte e fotografia. Uma relação nem sempre bem resolvida devido à linha tênue que as separa e que nos faz, até os dias de hoje, perguntar: quando a fotografia é arte? Para muitos, é quando ela deixa de ser um simples registro de uma cena real e passa a ser uma imagem construída a partir da criatividade, com o intuito de transmitir uma mensagem ou despertar uma emoção.
É o caso do trabalho realizado pelo casal de fotógrafos espanhóis Anna Davís e Daniel Rueda. Eles se conheceram quando estudavam arquitetura na Universidade de Valência (Espanha) e, embora tenham trocado a arquitetura pela fotografia, a influência dessa formação é evidente nas imagens, marcadas pela geometria, simetria e o uso frequente da arquitetura como cenário.
Em seu processo criativo, eles estudam e definem a mensagem que precisam passar, criam um conceito, montam o cenário - que pode ser tanto em estúdio como externo - e só então fazem o click. As imagens finais são tão perfeitas que podem até sugerir o uso de ferramentas de inteligência artificial, mas acreditem, eles não usam nada além de locais bonitos, muita luz natural, objetos cotidianos, e muita criatividade e senso de humor. Um dos objetos frequentemente usados é o chapéu, que rendeu uma série inteira, intitulada “What the Hat series”.
Uma das imagens dessa série é Hatventure (2024). Ela foi criada na ocasião de uma viagem a Melbourne (Austrália), à convite da Kia, para participar do torneio de tênis Australian Open. Eles usaram uma parede bege de fundo e sobre ela colaram recortes de papelão vermelho, que foi complementado pelo vestido e pelo detalhe na mala usada por Anna, para construir o emoji que simboliza a marcação de localização. A referência à viagem é complementada pelo chapéu e a mala. Eles usaram essa imagem como capa para um post em carrossel no Instagram, onde divulgaram os lugares que mais gostaram da cidade. Uma forma divertida e criativa para abrir um post com imagens de um destino de viagem sem “quebrar” a estética do perfil.
O trabalho da dupla é sucesso nas redes sociais, onde compartilham não só as imagens prontas, mas também o processo criativo. É sucesso também entre grandes empresas, para quem já desenvolveram imagens publicitárias, como: Netflix, Disney, Adobe e Pantone.
Você pode ver mais trabalhos deles no site oficial ou no perfil no Instagram da Anna e do Daniel.
📄 Mudando de assunto…
Na verdade, excepcionalmente hoje, seguimos com o assunto! Damos sequência ao “Mudando de assunto…” da semana passada, trazendo mais três fotos que exemplificam como a fotografia atinge o status de arte.
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Com seus retratos estilizados, o fotógrafo Richard Avedon (1923-2004) construiu uma ponte entre o mundo da moda e a arte. Esta fotografia de Marella Agnelli fez parte da matéria “Beleza de Nosso Tempo”, publicada na edição de abril de 1954 da revista Harper’s Bazaar. Marella, com sua beleza não convencional, pescoço longo e rosto em formato amendoado, evoca as figuras alongadas presentes nas pinturas de Amedeo Modigliani.
Avedon, conhecido por sua capacidade de capturar a essência de seus retratados, também atuou como fotógrafo nas Forças Armadas dos EUA, além de ter trabalhado para outras publicações famosas e ter fotografado várias celebridades. Seu estilo inovador redefiniu os padrões da fotografia de moda, e suas exposições foram realizadas em grandes cidades como Nova York, Paris e Londres.
Marella Agnelli, além de musa de Avedon, foi uma socialite italiana e grande incentivadora das artes. Seu fascínio e presença no cenário cultural também a tornaram objeto de obras de outros artistas notáveis, como Andy Warhol, que a imortalizou em suas pinturas.
Avedon conseguiu capturar a elegância e a sofisticação de Agnelli, e essa imagem se tornou um ícone da fotografia de moda e um exemplo da fusão entre arte e retrato editorial.
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O trabalho de Cindy Sherman (1954) é amplamente composto por autorretratos fotográficos, onde a artista se coloca em diferentes contextos e assume diversos personagens imaginários. Sem Título #93 faz parte de uma série de 12 fotografias criadas para a revista Artforum. Embora as imagens nunca tenham sido publicadas pela revista, foram exibidas publicamente no mesmo ano, recebendo aclamação crítica.
A imagem gerou intensos debates. Nela, uma jovem loira está deitada em uma cama, com expressão perdida, cansada e suada, puxando um lençol preto contra o peito. A atmosfera perturbadora levou alguns a interpretarem a cena como representativa de um abuso, mas Sherman refutou essa leitura, afirmando que sua intenção era apenas provocar e incitar o espectador a refletir sobre a imagem.
Uma impressão desta fotografia foi vendida por 3,8 milhões de dólares em um leilão na Sotheby’s, Nova York, em 2014, destacando a importância de Sherman na arte contemporânea e seu impacto no mundo da fotografia conceitual.
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A obra do renomado fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado (1944) faz parte da série Êxodos (2000) e está inserida no Projeto Genesis, produzido entre 2004 e 2011. Essa série é composta por fotografias que capturam paisagens, vida selvagem e comunidades humanas que ainda preservam suas tradições e culturas ancestrais ao redor do mundo. Com esse trabalho, Salgado busca retratar o “planeta original”, em um esforço de documentar a relação harmoniosa entre o ser humano e a natureza.
A imagem em questão apresenta dois indígenas Kamiurá, do Xingu, em pé em uma canoa, remando sobre águas tranquilas. Os remos que utilizam são longos e finos, e suas figuras aparecem escuras, quase em silhueta. A cena é envolta em uma neblina densa que cobre grande parte do rio e também obscurece o sol, criando uma atmosfera de mistério e serenidade. Ao fundo, outras quatro figuras aparecem em duas canoas, com a silhueta de uma floresta emergindo ao horizonte.
Além de ser exposta em diversas galerias pelo mundo, essa série foi compilada no livro Genesis, publicado em parceria com a Unesco. O trabalho de Salgado é mundialmente reconhecido por sua sensibilidade em capturar a realidade e sua habilidade única de transmitir a profundidade das relações humanas e naturais.
Como você vê a fotografia na arte?
👀 Arte em Pauta
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Mais uma edição maravilhosa. Eu adoro o trabalho da Anna e do Daniel. Vou matutar aqui sugestões pro “mudando de assunto” e volto.